sábado, 4 de julho de 2015

COMO LIDAR COM A INDISCIPLINA ESCOLAR

20% do tempo é utilizado para acalmar os alunos e organizar a classe


1. ANTES DE COMEÇAR, OBSERVE SUA SALA — MAPEAMENTO/ESPELHO, ORGANIZAÇÃO E LIMPEZA

Há algumas turmas em que as fileiras estão tão próximas umas das outras que eu fico com calor só de olhar. Impossível esperar silêncio dessa forma.
Além disso, não há espaço para o professor transitar entre as classes para poder ajudar os alunos nas suas individualidades.
Então, primeira coisa ao entrar na sala de aula: organizar a bagunça! Exigir que os alunos sentem-se nos seus lugares, conforme estabelecido no espelho de classe ou mapeamento, e organizar as classes, inclusive o que há em cima delas.
Alguns alunos têm dificuldade de organização e isso interfere na sua aprendizagem — são aqueles que deixam caderno, livro, estojo, lápis e canetas esparramados sobre a mesa, que apoiam cadernos sobre os lápis para escrever (!), ou têm garrafas de água destampadas prontas para virar e molhar seu material.
Parece uma coisa básica, tão simples, mas nossos alunos precisam do nosso auxílio.
A mesma orientação vale para a limpeza do ambiente: peça que ajuntem do chão os papéis maiores, plásticos e saquinhos que possam ter ficado do lanche ou de alguma atividade que exigiu mais nesse sentido.
Além de tudo, com esse costume estaremos contribuindo para que nossos alunos não sejam pessoas que jogam embalagens fora pela janela do carro.

2. INICIE A AULA SEM DEMORA

Tenha seus objetivos claros e trabalhe para conquistá-los. Portanto, comece aula sem rodeios, sem conversas que não sejam relacionadas ao objetivo estipulado.
Lembre-se, como já foi mencionado, que os alunos têm 1 minuto e meio de concentração por ano de vida. Não desperdice.

3. SEJA BREVE E OBJETIVO NAS EXPLICAÇÕES

Não perca tempo falando muito. Explique de maneira clara e objetiva o que os alunos devem fazer e faça-os produzir!

4. OLHE PARA TODOS OS ALUNOS

A afetividade é algo intrínseco ao sujeito, sendo principalmente importante na idade escolar.
Alunos que não gostam de um professor geralmente não gostam também da sua matéria e apresentam baixo rendimento.
Olhe para seus alunos durante as explicações, não apenas para os 5 ou 6 que “têm vontade de estudar”.
Às vezes, chamar aquele que está desatento pelo nome e perguntar se está compreendendo o traz para o universo do conhecimento que estamos levando para a sala de aula.
Quando o professor demonstra seu interesse no desenvolvimento dos alunos, estes deixam a postura de meros ouvintes e tornam-se parte do processo de aprendizagem, desejando compreender de fato e fazendo perguntas que comprovam que estão prestando atenção.

5. FAÇA PERGUNTAS E OUÇA AS RESPOSTAS

Alunos levantando a mão para fazer perguntas em sala de aula
O que move o mundo não são as respostas, mas sim as perguntas.
Então pergunte! Faça seus alunos pensarem, não dê respostas prontas, faça com que pesquisem e desenvolvam habilidades. Faça o que Celso Antunes chama de ginástica para o cérebro.

6. SOCIALIZE AS DÚVIDAS

Quando um aluno o questiona, socialize. Às vezes a dúvida de um pode ser a dúvida de todos.
Não deixe que sua aula se transforme num diálogo de duas pessoas, enquanto, nesse meio tempo, os outros alunos, sem nada para fazer, se dispersem com outros assuntos.
Outra coisa bem importante: respeite as dúvidas, evitando frases do tipo “me perguntando isso de novo?” ou “quantas vezes já falei isso?” e faça com que seus colegas também a respeitem.
Não existe pergunta boba.
Existem dúvidas que dificultam a aprendizagem e, dependendo da individualidade do aluno, as mesmas dúvidas irão surgir antes ou mais tarde.

7. EVITE VIRAR DE COSTAS PARA ESCREVER NO QUADRO

Cuidado com essa prática! Dependendo da turma essa pode ser uma péssima ideia, pois é um momento que alguns alunos podem se aproveitar, já que não estão sendo vistos totalmente e em todo momento pelo professor.
Mesmo assim, já tive turmas em que escrever no quadro era uma boa forma de manter a disciplina.
Vale ressaltar que não existem fórmulas prontas para uma aula proveitosa, mas sim a experimentação de diferentes metodologias nas diferentes turmas.

8. CAMINHE PELA SALA, EVITANDO QUE OS ALUNOS LEVANTEM

Professor que caminha pela sala ajuda a manter o aluno sentado.
Professor que senta incentiva o aluno a levantar-se quando este precisa do seu auxílio. Qual atitude parece mais inteligente?
Além da questão disciplinar, há outro motivo para você escolher a primeira opção: ao atender os alunos de carteira em carteira, você pode observar a organização dos cadernos, se o que foi solicitado está sendo feito, ajudar na organização daquele que tem essa dificuldade e talvez o mais importante: olhar para cada um e oferecer uma atenção especial, fortalecendo a relação professor x aluno.

9. EXPLIQUE AS ATIVIDADES COM CLAREZA

É comum que alunos esqueçam de algum material para a aula. Ainda que isso seja um problema em muitos casos, sempre me preocupo em garantir que todos possam realizar as atividades para poderem passar por aquela experiência.
Seguindo essa postura, certa vez, no calor da atividade, vi o aluno envolvido, comprometido e… feliz.
Não é isso que todos os pais desejam para seus filhos? Ele estava feliz! Feliz pois experimentou a atividade e sentiu-se bem por realizá-la.
Então, professor, explique a tarefa com clareza, ensine como fazer, pois o aluno, quando alcança o objetivo proposto, sente prazer. Tenha certeza de que ninguém se sente satisfeito em ir para a escola e voltar para casa sem ter aprendido algo novo.

10. VALORIZE O ALUNO NA SUA INDIVIDUALIDADE – CONHEÇA-O E RESPEITE-O

Se olharmos para trás, para a nossa vida escolar, com certeza lembraremos um professor que pisou na bola conosco.
Lembro de certa vez, na terceira série, eu então com 8 anos. A professora pediu que plantássemos um feijão no algodão (quem nunca?). Eu fiquei muito feliz com a proposta, emocionada de fato, e num de meus relatórios escrevi que estava nascendo uma vagem. Para mim foi o que mudou, em todo aquele tempo observando o dito feijão, e eu achei mágico, lembro de ter imaginado a história do João e o pé-de-feijão e outras fantasias infantis.
A professora conseguiu me tocar com a sua proposta!
No entanto, após corrigir os relatórios, na frente de toda turma, a professora disse que “tinha gente que escreveu que já estava aparecendo vagem! Onde já se viu? É um absurdo achar que está crescendo uma vagem!”Boneca jogada no chão em ambiente sombrio
Quanta vergonha que eu senti! Ela estava falando de mim perante a turma! O que eu ia saber de plantação de feijão com 8 anos? Quase joguei meu trabalho fora, de raiva.
Analisando a atitude dessa professora, o que faltou? Onde ela pecou? No respeito aos alunos!
  • Falar no grande grupo sobre algo que “alguém” escreveu. Ninguém sabe quem é esse alguém, a não ser o próprio autor. Como o aluno se sente?
  • Exigir levar em conta aspectos como idade, desenvolvimento, histórico de vida.
A criança não é um adulto em miniatura e não tem obrigação de saber! O professor é que deve conduzir as atividades, respeitando o aluno na sua individualidade.
Quer ouvir uma música que ilustra perfeitamente essa problemática?
Chega de dar sapato 36 para as nossas crianças!

11. ELOGIE

Imagine o efeito de um elogio ou de uma palavra de incentivo para um aluno que está demonstrando interesse nas aulas, realizando os temas de casa e respeitando o ambiente de estudos.
O reconhecimento por parte do professor de uma atitude colabora com a repetição das atitudes que consideramos positivas. Elogie seu aluno, faça -o sentir-se visto, valorizado. Escreva um bilhete na agenda aos pais, comunicando o bom rendimento do filho.
A agenda escolar não deve ser apenas para notificar maus comportamentos, mas bons também. Faço isso com frequência e garanto que incentivar e elogiar tem efeito mais duradouro e rápido que xingar, dar sermões e chamar os pais.

12. ESTEJA ATENTO ÀS PISTAS

Os alunos estão o tempo todo pedindo para ir ao banheiro? Alerta! Será que sua aula não está cansativa ou monótona demais?
É importante diversificar as propostas, intercalar atividades de maneira que não  se permaneça muito tempo fazendo a mesma coisa.
Imagine você, na faculdade, uma noite inteira apenas lendo artigos.

13. MANTENHA A CALMA E A SERENIDADE

Por mais que seja difícil, mantenha-se calmo. Os professores devem ser o exemplo e, por isso, quando têm atitudes consideradas extravagantes ou erradas no julgamento dos seus alunos, estes ficam chocados.
É como quando um filho descobre que o pai ou a mãe fazem algo errado.
Lembre-se que a educação se dá pelo exemplo. As atitudes que temos demonstram aos educandos o que eles podem fazer quando forem adultos.

14. TENHA BOM HUMOR

Os alunos não têm opção: devem ir para a escola. Podem até optar entre esta e aquela instituição, mas não podem fugir do profissional da educação com quem precisam conviver no mínimo 4 horas por dia.
Seja bem humorado, saiba relevar algumas situações.
Ter um comportamento colérico em sala de aula pode criar ou aumentar um clima de tensão que não contribui com a aprendizagem. Coloque-se no lugar do aluno e imagine ter um palestrante mal humorado e que, às vezes, até é grosseiro ou mal educado.

15. EVITE GESTICULAR OU ELEVAR A VOZ EM EXCESSO

Cuidado com o tom de voz. É sempre preferível falar mais baixo, de modo que os alunos tenham que ficar em silêncio para ouvir, do que o professor que fala muito alto.
Claro que deve haver bom senso: falar muito baixo, de maneira que a turma do fundo não consiga ouvir, também pode gerar indisciplina.
Quem nunca terminou um dia de aula praticamente sem voz? Aprenda 10 exercícios para cuidar do seu principal instrumento de trabalho.
A gesticulação exagerada também pode atrapalhar a aula. Uma boa técnica descrita por Celso Antunes em seu livro Na Sala de Aula é a do espelho: treinar em casa olhando-se no espelho e ir corrigindo a postura. Vale também lembrar da frase “você está sendo filmado” enquanto dá aula.

16. NÃO VINCULE NOTA À DISCIPLINA

A disciplina é fator importante na educação, não apenas o conhecimento. Portanto, trate a disciplina como tal, sem vincular a nota.
Além disso, essa atitude contribui para uma educação pela nota, não pelo conhecimento ou satisfação pessoal. Educar para atingir a “média” não motiva para ir além do conhecimento da escola.
“obtenção da disciplina por convicção leva a formação de uma personalidade forte, madura, que vai sabendo o que quer, o que é certo ou errado; leva a internalização de valores, a autoconfiança, ao crescimento da autoestima, ao senso comunitário, à criatividade e à verdade”
Celso Vasconcelos, p.50

17. NÃO INCITE O MEDO DA PROVA

A avaliação deve ser encarada pelo aluno como um momento para testar seus conhecimentos e saber qual aspecto dos conteúdos abordados devem ser revistos.
Ele não tem maturidade para compreender o objetivo final da avaliação.
Por isso é que o professor deve ajudá-lo. Muitos, pelo contrário, acabam descontando sua insatisfação com o comportamento dos alunos incitando o medo da avaliação.
Saber que estamos sendo testados nos deixa tensos, aflitos. Então para que estimular esse comportamento? Devemos contribuir é para a formação dos jovens, para que possam lidar com situações adversas.
Esses alunos que têm medo de realizar uma prova poderão reprovar inúmeras vezes na autoescola, por exemplo, devido ao nervosismo ou por falta de autocontrole num momento avaliativo.
Incitar o medo não melhora o comportamento e faz com que o objetivo da avaliação se perca.

18. SEJA AUTORIDADE E NÃO AUTORITÁRIO

Você sabe a diferença entre o professor autoritário e o professor que é autoridade na sua sala de aula?

Carta de Paulo Freire aos professores- Ensinar, aprender: leitura do mundo, leitura da palavra

Filosofia

Rubem Alves - A Escola Ideal - o papel do professor